Anzol
É um anzol.
Todo o corpo e toda a beleza, toda a divindade, toda a maravilha, o encantamento, a sensualidade, o tesão chega no corpo como uma isca e imediatamente o azol é puxado.
Te fisga no mais íntimo, tenebroso, obscuro, negro, desconhecido, animalesco. O fio toca o certeiro, mínimo ponto de todo seu desconhecido e traz, te puxa. De súbito. Rapidamente já está fora de si, mas lentamente percebe o que seu corpo sente, pede, suplica: as pernas bambas, o suor nos braços, nas mãos; o calafrio, o frio na barriga. Entre os seios, o vazio que contém toda a brutalidade e animalidade do ser, todo o desejo, de súbito, pra fora.
Te curva.
Conforme o anzol sai, você o encara, invisível e sensível, fora de si, restando apenas seu corpo baqueado, sua falta preenchida por um desejo incalculável cujo único objetivo é morrer em ser saciado.
E seu corpo curva, querendo ser derrubado, esquecido, morta pelo desejo. É tudo que pensa, que procura, que respira, que precisa para sobreviver: morrer para se saciar. Morrer, entregar todo seu corpo e alma, para ver a outra saciada e nunca se satisfazerem. Jamais se satisfazerem. Encontrar o desejo no mais novo desejo de morrer de uma nova maneira.
E faria de tudo para que suas mãos continuem a suar, para que seu uivo seja o único som da noite, para que o uivo da outra seja tudo que chega em seus ouvidos enquanto suas mãos partem, rasguem, pressionem, lambam, vivam, morram na pele da outra, em seu suor, em seu olhar, em sua pele.
Faria de tudo para alimentar, aumentar, engrandecer toda a brutalidade e depravação dentro de cada uma. Toda a animalidade.
Toda a loucura.
E a língua...
A língua merece seu próprio texto.
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