Mais de duzentas sacas
Uns dizem que o homem / foi feito do barro
De carne e sangue é feito / esse pobre coitado
Além de pele e osso / que sustenta a carcaça
Costas bem carnudas / e cabeça bem fraca
Mais de duzentas sacas / e oque você ganha
Mais velho e cansado / e a dívida arreganha
São Pedro num me chama / que num posso ir não
Eu devo até a alma / na venda do barão
Nasci numa manhã / que o sol num brilhava
Antes de ir pra lavoura / eu peguei minha enxada
Mais de duzentas sacas, essa foi minha obra
O capataz impressionou-se / e disse "nossa sinhora!"
Mais de duzentas sacas / e o que você ganha
Mais velho e cansado / e a dívida arreganha
São Pedro num me chama / que num posso ir não
Eu devo até a alma / na venda do barão
Parido num canavial / numa manhã bem chuvosa
Desde cedo acostumado / a nadar pela fossa
Eu num aguento mais, se pudesse eu fugia
Mas se eu for embora, como fica a família
Mais de duzentas sacas / e o que você ganha
Mais velho e cansado / e a dívida arreganha
São Pedro num me chama / que num posso ir não
Eu devo até a alma / na venda do barão
Hoje eu num sô alguém / com quem se falta respeito
Muitos num conseguiram, muitos homens morreram
Eu num sopro vapor, eu num sô feito de aço
Mas só sendo trem de carga / e num morrer de cansaço
Mais de duzentas sacas / e o que você ganha
Mais velho e cansado / e a dívida arreganha
São Pedro num me chama / que num posso ir não
Eu devo até a alma / na venda do barão
(Crédito da imagem: Pintura a óleo / tela "Café", de Candido Portinari)
#PraCegoVer #PraTodosVerem Ilustração no primeiro e segundo slides. Imagem reproduz um ambiente interno. No fundo, papel de parede vermelho escuro, chão de madeira. Um quadro com moldura dourado mostra pintura "Café", de Candido Portinari. Texto em branco. Moldura traz na lateral a faixa vertical verde água com símbolo da SPN, foto de rosto de Miguel Bento Nery e o nome dele. Ele tem olhos castanhos, cabelos curtos castanhos, barba, bigode, e veste uma camiseta regata. Foto no terceiro slide traz a pintura a óleo de Portinari. Obra datada de 1935 retrata personagens humanos com cabeças, mãos e pés grandes em uma plantação de café. Maioria dos homens usa roupa branca e cinza, chapéu ocre, mulheres com vestidos claros e lenços na cabeça. Pilha com sacas de café no canto esquerdo. Chão nos tons terra e vermelho. No fundo um cafezal. Fim da descrição. (Legenda acessível por Bia Palumbo)
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