Monólogo
É uma coisa que consome.
Cada palavra, verso.
Cada poema deflagrado, exorcizado,
Estripado das entranhas.
Odisseia de horrores.
Uma viela escura, morbidez sedutora.
Poesia boa é a que te rasga.
A que se escreve sentindo o gosto agridoce
Das próprias vísceras.
Às vezes ficando dopado, às vezes irritado.
Mas sempre cuspindo no papel
O que a boca não tem coragem.
Poeta não come.
Regurgita o que escreve,
E tempera com sarcasmo.
Dança como um boêmio nas noites escuras da alma.
Poeta não sofre.
Chora navalhas pra sangrar a tinta do seu lamento.
É impaciente, morre na eternidade de um segundo.
Tem uma lábia que cativa até o demônio.
Poeta não ama.
Sofre na própria luxúria.
Se ausenta de si pelo outro,
E sabe onde vai chegar.
Voa cego nas curvas da sua musa.
Se joga, se retalha.
Se afoga num rio de engano e ilusão.
Um vagabundo ordinário.
Se esconde no lixo, rouba alegrias.
Poeta é imperdoável.
Canalha, cafajeste.
Não encontra um casulo que preste.
Faz da mentira um conto admirável.
Você nunca vai decifrar.
Mas pode se deliciar.
Aproveitar e se saciar.
Ele não se importa em se frustrar.
Te dá medo de se apaixonar?
A alma do poeta não se mede.
Mas há muito mais que possa se dizer.
Se eu narrar mais, não vou me conter.
Sendo assim, esse que vos fala se despede.
(Crédito das imagens: Reprodução/Pinterest e Google)
#PraCegoVer #PraTodosVerem ilustração. No primeiro slide temos a imagem do que parece ser uma sala sendo desocupada, reformada ou recebendo novos moradores; vê-se o braço e parte do assento de uma poltrona estofada em tons de preto e vermelho, com aspecto de ser de couro ou similar. Há um chão de madeira e uma tomada na parede. A primeira parte do poema está escrita na área da parede. No topo do slide há a faixa verde água e a identidade visual características da SPN e logo abaixo a foto do autor e seu nome. Elias Daniel tem pele morena, olhos castanhos e usa um lenço preto cobrindo toda a cabeça e amarrado atrás. seu rosto está um pouco de lado e seu semblante, sério. No segundo slide temos uma continuação dessa mesma sala, mostrando a parede branca com ranhuras, o chão de madeira e agora dois quadros com moldura apoiados no chão, como se estivessem prestes a serem pregados ou como se tivessem sido retirados de algum outro lugar. Temos aqui a segunda parte do poema escrita em fonte escura. Logo abaixo, um quadro está sobreposto ao outro e apenas um deles está visível. Neste, vê-se a figura de um homem e de um garoto, em preto e branco. O homem parece estar sufocando o menino, com as mãos e uma expressão perversa de meio riso. O jovem rapaz parece imobilizado e sua expressão denota desconforto e tentativa de resistência. Pode se tratar de uma imagem metafórica, no sentido da vida adulta ir sufocando a criança que vive em cada indivíduo, mas não há indicação de que tipo de relação ambos possuem ou se possuem alguma. Ao lado dos quadros, está um galão de tinta com um pincel sobre a tampa, dando mais uma vez a impressão de reforma ou mudança. O terceiro slide - com a terceira e última parte do poema - vemos a parte que estava oculta no primeiro slide, mostrando o restante da poltrona, a mesma parede e chão, além de um vaso de planta naturais e um tapete enrolado em suas proximidades. O último slide traz a imagem original escolhida pelo autor do poema para compor sua ilustração. Fim da descrição. (Legenda acessível por Natália Parreiras)
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